Trump envia carta a Lula e anuncia tarifa de 50% sobre produtos brasileiros; veja documento

Segundo o documento, a nova taxa passa a valer em 1º de agosto. Por Redação e Gabriela Echenique 09/07/2025 17h30 Atualizado há 9 horas

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Trump envia carta a Lula e anuncia tarifa de 50% sobre produtos brasileiros; veja documento

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enviou na tarde desta quarta-feira (9) uma carta ao presidente Lula em que anuncia tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. As novas tarifas, segundo o presidente, valem a partir de 1º de agosto e vão além daquelas já impostas ao Brasil em relação aos outros produtos.
 

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Nessa carta, o presidente justifica o aumento ao que chama de "injusta relação comercial gerada por barreiras tarifárias impostas pelo Brasil" e diz que o relacionamento entre os dois países está longe de ser recíproco.

O governo brasileiro diz, no entanto, que a balança comercial é praticamente neutra. Na verdade, o déficit é da parte brasileira que compra mais do que exporta.
Trump cita, ainda, o julgamento contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e volta a falar em "caça às bruxas". Na carta, o presidente também eleva o tom contra o Supremo Tribunal Federal e cita decisões contra plataformas sociais norte-americanas. O Planalto já discute adotar a reciprocidade, ou seja, taxar também os produtos norte-americanos.
A CBN conversou com interlocutores de uma ala política dentro do Palácio. Esses nomes ouvidos pela reportagem defendem que isso seja feito imediatamente. Mas, o Itamaraty, mais cedo, tinha adotado cautela, preferindo esperar a medida concreta. Agora que Trump anunciou as tarifas, as conversas aceleraram do Itamaraty para saber o que vai ser feito. De qualquer forma, Trump já se adianta nessa carta e diz que, se isso acontecer, o mesmo percentual será aplicado ao Brasil além dos 50%.
Então, se o Brasil decide aplicar uma nova tarifa de 20%, por exemplo, Trump ameaça tarifar, então, mais 20% além dos 50% anunciado. Mais cedo, antes do anúncio do presidente norte-americano Donald Trump, mas diante já das ameaças que ele fazia de tarifas, o vice-presidente Geraldo Alckmin disse que a imposição de tarifas é injusta.
 

O Brasil tem realmente um déficit de balança comercial, mas com o Brasil tem superávit de balança comercial, com o Brasil não há problema. De outro lado, dos dez produtos que eles mais exportam para nós, oito a liquidez zero, não paga imposto, a liquidez zero é chamado ex-tarifário. Então, é uma medida que, em relação ao Brasil, é injusta e prejudica a própria economia americana. Porque você tem uma integração na área comercial.
 
Na carta, Trump considera rever esse ajuste em duas situações. Se o Brasil decidir construir ou fabricar produtos lá e se eliminar as barreiras comerciais. Ele diz que talvez considerem um ajuste nessa carta, mas que as tarifas podem ser modificadas para cima ou para baixo, dependendo do que o Brasil adotar daqui para frente.

O presidente norte-americano justifica a elevação da tarifa sobre o Brasil citando Jair Bolsonaro e classifica como "uma vergonha internacional" o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF).
O republicano afirma, sem provas, que a decisão de elevar a taxa aconteceu "em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos".
"[Isso ocorreu] como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro", escreveu Trump.
A carta diz que a tarifa de 50% será aplicada sobre "todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os EUA, separada de todas as tarifas setoriais existentes". Lembrando que produtos como o aço e o alumínio já têm tarifas de 50%, algo que impacta diretamente a siderurgia brasileira.
Trump ressaltou, no documento, que a relação comercial dos EUA com o Brasil é "injusta".
 

"Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco", escreveu.
 
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Ao final da carta, Trump sinaliza um possível caminho de negociação:
 

Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América.
 
 

Veja a carta traduzida na íntegra:
 
9 de julho de 2025
Sua Excelência
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente da República Federativa do Brasil
Brasília
Prezado Sr. Presidente:
Conheci e tratei com o ex-Presidente Jair Bolsonaro, e o respeitei muito, assim como a maioria dos outros líderes de países. A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma Caça às Bruxas que deve acabar IMEDIATAMENTE!
Em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos (como demonstrado recentemente pelo Supremo Tribunal Federal do Brasil, que emitiu centenas de ordens de censura SECRETAS e ILEGAIS a plataformas de mídia social dos EUA, ameaçando-as com multas de milhões de dólares e expulsão do mercado de mídia social brasileiro), a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos, separada de todas as tarifas setoriais existentes. Mercadorias transbordadas para tentar evitar essa tarifa de 50% estarão sujeitas a essa tarifa mais alta.
Além disso, tivemos anos para discutir nosso relacionamento comercial com o Brasil e concluímos que precisamos nos afastar da longa e muito injusta relação comercial gerada pelas tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil. Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco.Por favor, entenda que os 50% são muito menos do que seria necessário para termos igualdade de condições em nosso comércio com seu país. E é necessário ter isso para corrigir as graves injustiças do sistema atual. Como o senhor sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas dentro do seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos e, de fato, faremos tudo o possível para aprovar rapidamente, de forma profissional e rotineira — em outras palavras, em questão de semanas.
Se por qualquer razão o senhor decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos. Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os Estados Unidos. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional!
Além disso, devido aos ataques contínuos do Brasil às atividades comerciais digitais de empresas americanas, bem como outras práticas comerciais desleais, estou instruindo o Representante de Comércio dos Estados Unidos, Jamieson Greer, a iniciar imediatamente uma investigação da Seção 301 sobre o Brasil.
Se o senhor desejar abrir seus mercados comerciais, até agora fechados, para os Estados Unidos e eliminar suas tarifas, políticas não tarifárias e barreiras comerciais, nós poderemos, talvez, considerar um ajuste nesta carta. Essas tarifas podem ser modificadas, para cima ou para baixo, dependendo do relacionamento com seu país. O senhor nunca ficará decepcionado com os Estados Unidos da América.
Muito obrigado por sua atenção a este assunto!
Com os melhores votos, sou,
Atenciosamente,
DONALD J. TRUMP
PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA