Entenda: delação que derrubou esquema de corrupção em Sidrolândia está ‘congelada’
Delação do ex-chefe de compras de Sidrolândia revelou detalhes da operação chefiada por Claudinho Serra (PSDB) Gabriel Maymone - 17/06/2025 - 07:22
A delação premiada feita pelo ex-chefe de compras da prefeitura de Sidrolândia, Thiago Basso da Silva, ficará ‘congelada’ pelos próximos 3 meses. Com a decisão do juiz Bruce Henrique dos Santos Bueno Silva, surgem especulações sobre os rumos das investigações do esquema de corrupção no município, supostamente chefiado pelo ex-vereador em Campo Grande Claudinho Serra (PSDB).
O caso faz parte da Operação Tromper, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação no Combate ao Crime Organizado). Investigados teriam comemorado e, segundo as defesas de alguns dos implicados, a situação pode abrir brecha para ‘Assim, o ‘segurar’ o processo.
No entanto, novas prisões no início deste mês puseram de volta na cadeia Claudinho Serra (PSDB), apontado como chefe do esquema, seu assessor, Carmo Name Júnior, e o empreiteiro de Campo Grande Cleiton Nonato Correia, da GC Obras.
De acordo com o juiz Bruce Silva, o delator não teria cumprido a parte dele no acordo do colaboração.
Arquivamento será reavaliado em 90 dias
Ao fechar a delação, o delator se compromete a cumprir algumas medidas. No caso de Thiago, umas delas foi a devolução de R$ 80 mil, que seria a parte dele da propina. No entanto, outras obrigações ficaram descumpridas.
Apesar de arquivar o pedido de homologação da delação por três meses, o juíz determinou que depois disso haverá nova avaliação do caso.
“Considerando, contudo, a pendência de cumprimento das demais cláusulas pactuadas, determino o encaminhamento dos autos ao arquivo provisório pelo prazo de 90 (noventa) dias, com posterior reavaliação quanto ao adimplemento integral das obrigações assumidas no instrumento de colaboração“, diz o despacho do magistrado Bruce Henrique dos Santos Bueno Silva.
MPMS não respondeu sobre delação ‘congelada’
Em fevereiro, ele havia solicitado informações sobre o cumprimento das demais obrigações do delator. No entanto, sem retorno, decidiu arquivar o pedido de homologação da delação.
Acionado pela reportagem para se manifestar sobre o despacho do juiz e providências para garantir a delação, o MPMS (Ministério Publico de Mato Grosso do Sul) ainda não respondeu.
O espaço segue aberto para manifestação.
Sem homologação judicial, uma delação não tem validade jurídica. Ou seja, o processo não tem como usar as informações. A Tromper ainda tem uma segunda delação em andamento, do empresário Milton Matheus Paiva.
Delação revelou detalhes da corrupção em Sidrolândia
Prefeitura de Sidrolândia após operação contra corrupção. (Henrique Arakaki, Midiamax)
Basso revelou ao Gaeco detalhes de como funcionava o esquema. Em resumo, uma das informações do delator era de que Claudinho Serra recebia espécie de mesada das empresas que fechavam contrato com a prefeitura de Sidrolândia.
O valor variava de 10% a 20% do valor do contrato.
Assim, Basso detalhou que tinha como função fazer cobranças aos empresários vencedores de licitações milionárias no município de Sidrolândia, a mando de Claudinho.
Além disso, nessa lista de empresários estão alguns réus da Operação Tromper como José Ricardo Rocamora, Luiz Gustavo Justiniano Marcondes e Milton Matheus Paiva Matos. Os pagamentos, na maioria dos casos, ocorriam em dinheiro em espécie.
“O Cláudio Serra cobrava, na época secretário de fazenda, uma porcentagem de 10% das empresas que tinham grandes contratos com o Município, uma porcentagem de 10% de tudo aquilo pago pelo Município. Então ele me fazia levantamentos, igual Ricardo Rocamora, outras empresas. Essa empresa recebeu R$ 30 mil neste mês do município, então você tem que cobrar dela R$ 3 mil neste mês. Dez por cento tem que pagar de comissão para a gente aqui”, afirmou Silva durante a delação.
Ainda de acordo com a delação, Tiago detalha que, mensalmente, emitia cerca de R$ 100 mil em notas frias, ou seja, que não correspondiam ao serviço prestado.
Claudinho Serra tinha ‘tabelinha da propina’
“Tinha uma tabelinha lá que o Claudio me passou uma vez que ele falou ‘Oh, do que eu devo, do que a secretaria de fazenda deve, você vai empenhar 60% para Rocamora, 30% para a Marcondes e 10% para a 3M [empresa do Milton Matheus]’. É para trabalhar com essas três empresas […] o interesse deles era fazer valor, não importava se o papel higiênico seria entregue por R$ 3 porque eles não iam entregar papel higiênico”, pontuou.
Thiago Basso da Silva descreveu como Claudinho Serra – na época secretário de Fazenda, Tributação e Gestão Estratégica – fazia cobranças aos empresários vencedores de licitações milionárias no município de Sidrolândia.
Desta forma, o ex-chefe do setor de licitações explicou que era responsável por ir pessoalmente falar com os diretores das empresas, enquanto as que tinham contratos de maior valor – como para obras de pavimentação – tratavam do assunto no gabinete de Claudinho Serra.
Vereador do PSDB comandou esquema de corrupção
Claudinho Serra é apontado pelo MP como o chefe da organização criminosa que desviou milhões em Sidrolândia (Foto: Nathalia Alcântara, Midiamax)
Por fim, a Tromper chega na sua fase mais importante. Em 3 de abril de 2024, o Gaeco vai novamente às ruas e prende o então vereador de Campo Grande, Claudinho Serra, por chefiar todo o esquema.
O político só conseguiu assumir uma cadeira na Câmara após manobra do PSDB, já que ficou somente como suplente no pleito municipal.
Ainda assim, Serra ganhou confiança da cúpula do PSDB e era um dos ‘pupilos’ do partido.
Conforme revelaram as investigações, Claudinho cobrava uma espécie de ‘dízimo’ que variava de 10% a 30% sobre o valor dos contratos dos empresários. Quem não se ‘acertava’ com o chefe, era barrado de licitações no município.
As informações foram reveladas na delação premiada de Basso.
Quem foi implicado na Operação em Sidrolândia?
Nessa fase, 22 se tornaram réus:
Claudio Jordão de Almeida Serra Filho – vereador apontado como líder da organização criminosa
Carmo Name Junior – ex-assessor parlamentar de Claudinho Serra
Ueverton da Silva Macedo – empresário de Sidrolândia
Ricardo José Rocamora Alves – empresário de Sidrolândia
Thiago Rodrigues Alves – ex-servidor do Governo do Estado ligado à Agesul e empreiteiras
Milton Matheus Paiva Matos – advogado de Sidrolândia
Ana Cláudia Alves Flores – ex-pregoeira da Prefeitura de Sidrolândia
Marcus Vinícius Rossentini de Andrade Costa – ex-chefe de licitações da Prefeitura de Sidrolândia
Luiz Gustavo Justiniano Marcondes – empresário de Sidrolândia
Jacqueline Mendonça Leiria – empresária de Sidrolândia
Heberton Mendonça da Silva – empresário e ex-assessor parlamentar de Claudinho Serra
Roger William Thompson Teixeira de Andrade – empresário de Sidrolândia
Valdemir Santos Monção – assessor parlamentar na Alems
Cleiton Nonato Correia – empresário dono da GC Obras de Pavimentação
Edmilson Rosa – empresário dono da AR Pavimentação
Fernanda Regina Saltareli – empresária sócia da CGS Pavimentações e Terraplanagem
Maxilaine Dias de Oliveira – empresária da Master Blocos
Roberta de Souza – ex-servidora de Sidrolândia
Yuri Morais Caetano – ex-estagiário do MPMS em Sidrolândia
Rafael Soares Rodrigues – ex-secretário de Educação Sidrolândia
Paulo Vitor Famea – ex-secretário-adjunto da Assistência Social de Sidrolândia
Saulo Ferreira Jimenes – empresário de Sidrolândia
Deles, seis seguem com tornozeleira eletrônica: Claudinho Serra, Thiago Rodrigues Alves, Carmo Name Júnior, Ricardo José Rocamora Alves, Ana Cláudia Alves Flores e Marcus Vinícius Rossentini de Andrade Costa.
Ademais, Ueverton Macedo é o único que está preso. Foi a partir do celular dele que as investigações chegaram a todo organograma de como funcionava o esquema.
Sabe de algo que o público precisa saber? Fala pro Midiamax!
Se você está por dentro de alguma informação que acha importante o público saber, fale com jornalistas do Jornal Midiamax!